terça-feira, 13 de abril de 2010

A crise do socialismo e o mundo nos anos 90 ;D


No final dos anos 80 a experiência “socialista” ou de economia planificada entrou em profunda crise. Talvez nem existirá mais o chamado Segundo Mundo no século XXI, que já se avizinha, tal rapidez das mudanças que ocorrem nesses países: a planificação centralizada da economia cede lugar às leis do mercado (oferta e procura) e a uma maior liberdade para as empresas tomarem suas decisões; inúmeras empresas estatais foram e são privatizadas; houve a reabertura de inúmeras bolsas de valores (compra e venda de ações) e a introdução de empresas multinacionais que antes não podiam operar nesses países etc. Daí se usar a expressão economias planificadas em transição para se referir a esses países, que desde o final dos anos 80 implantaram economias de mercado no lugar da planificação da vida econômica.
A própria União Soviética, o grande exemplo desse tipo de experiência, deixou de existir com a independência ou maior autonomia das Repúblicas que a compunham – Rússia, Ucrânia, Armênia, Cazaquistão, Bielo-Rússia etc. Em grande parte desses países o monopólio do poder político nas mãos de um único partido, o comunista, cedeu lugar a um pluripartidarismo com eleições periódicas e livres. Daí então se falar na crise do Segundo Mundo e no enfraquecimento da oposição Leste-Oeste, isto é, capitalismo versus socialismo.
Mas a oposição Norte-Sul, ou seja, entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos, não se enfraquece e, pelo contrário, vê-se fortalecida com essa nova situação internacional. Até os anos 80 os países de economia planificada formavam quase um mundo à parte, nem desenvolvidos nem subdesenvolvido. Nos anos 90, contudo, com as mudanças desses países, que voltam a Ter economia de mercado capitalista, há uma maior aproximação de uma parte desse “mundo” com os países centrais ou desenvolvidos (caso da Europa Oriental, Rússia, Ucrânia, Letônia etc.) e uma maior identidade de outra parte com os países periféricos ou subdesenvolvidos (caso de Cuba, Moçambique, Vietnã, Camboja, Mongólia etc.). Mas a nova situação não é simples e sim bastante complexa, com vários grupos diferenciados de países periféricos ou do Terceiro Mundo. Veremos isso a seguir.
O próprio centro ou países desenvolvidos tem inúmeras situações diferentes. Em primeiro lugar há as áreas de vanguarda na industrialização e na pesquisa tecnológica, basicamente o Japão, Os Estados Unidos e a Alemanha. Ao redor deles, e com situações também privilegiadas, encontram-se outras áreas ou nações: Canadá, França, Bélgica, Inglaterra, Suíça, Itália, Espanha etc.
Essas áreas centrais constituíram nos anos 70 e 80 mercados supranacionais, onde o grande exemplo é o MCE – Mercado Comum Europeu –, e podem atualmente ser divididas em três grandes pólos ou centros principais da economia mundial: o MCE, no qual se destaca a liderança alemã e que provavelmente deverá incorporar a Europa Oriental e parte das ex-repúblicas da União Soviética; o mercado comum da América do Norte, que inclui os Estados Unidos e o Canadá (e cada vez mais o México, embora numa posição inferior); e o Japão e algumas nações industrializadas na Ásia e na Oceania (Coréia do Sul, Taiwan, Hong Kong, Cingapura, Austrália e Nova Zelândia) que estreitam cada vez mais as relações entre si.
E as áreas periféricas também possuem disparidades. Há em primeiro lugar o que se pode chamar de periferia privilegiada ou países associados àqueles do centro: casos de Portugal e Grécia, n Europa Ocidental, e o México, Na América do norte. São países que, apesar de uma situação de relativa pobreza, participam de mercados supranacionais junto com as nações altamente industrializadas e onde há nos últimos anos uma sensível melhora na situação econômica e no padrão de vida da população. Na Grécia, não são subdesenvolvidos e sim as áreas mais pobres do centro. E os demais, como o México ou os “tigres asiáticos” (Taiwan, Coréia do Sul, Hong Kong e Cingapura são países do Terceiro Mundo mas com grande viabilidade de desenvolvimento e de superação da pobreza de amplas camadas populacionais.
Numa situação intermediária pode-se colocar o Brasil e outros países relativamente industrializados Terceiro Mundo que não participam de marcados comuns junto com os países desenvolvidos: Argentina, Chile, África do Sul, Egito, Turquia etc. São periferias onde há modernização e pobreza, onde há industrialização e grandes desigualdades sociais com as suas conseqüências (analfabetismo, falta crônica de moradias, de alimentos para certos setores populares etc.).
E por fim temos a parte mais pobre, o Terceiro Mundo, também chamada de “quarto mundo” por alguns autores: a imensa maioria dos países da África (Uganda, Tanzânia, Serra Leoa, Zaire, Quênia, Etiópia etc.), da América Central e do Sul e sudeste da Ásia (Bangladesh, Afeganistão, Paquistão, Birmânia etc.). Este é o “mundo” que ainda não ingressou na modernização, onde as condições de pobreza e de subnutrição da população são as mais graves do globo. É a periférica, com poucas esperanças de amplas melhoras nestes anos 90.

(VESENTINI, W. J. Brasil Sociedade e Espaço, São Paulo: ática, 1996, p.14-15)

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